segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

O Eléctrico.

Ah o Eléctrico do Porto...! 

   O Eléctrico é aquele meio de transporte que teima em resistir à mudança dos tempos. 
   Quando as carruagens e os cavalos se foram Ele ficou; quando os paralelos foram substituídos por asfalto os Seus carris ali continuaram; quando as fotos passaram a ser digitais e as câmaras telemóveis Ele pouco se importou; quando toda a gente decidiu que era saudável fazer jogging ao fim da tarde a Sua rota não se alterou. O Eléctrico insurge-se contra modernices como a reserva de bilhetes por aplicações em smartphones, luta contra a pressa e a azafama de chegar a todo o lado  característica do seu primo mais novo, o Metro, dispensa o toque em campainhas com o estrangeirismo "STOP" gravado que o seu parente autocarro adoptou e guarda para si um cordel e um sininho que devemos puxar quando queremos sair.
   Noutros países por essa Europa fora este meio de transporte foi substituído por outros, ou alterado de tal forma para melhor servir as necessidades do cliente do século XXI, que no final só o nome restou. Mas não aqui! Aqui, num país de saudosistas, o Eléctrico manteve-se e a sua forma pouco mudou desde o tempo dos nossos avós, permitindo-nos ao vê-lo passar, imaginar como seriam as coisas num "antigamente" não tão distante assim. 
   O Eléctrico passeia-se pelo centro da cidade a uma velocidade que permite observar o que nos rodeia sem ficarmos com a cabeça à roda e tirar fotos em andamento sem que as imagens capturadas pela nossa câmara pareçam estar a ser sugadas para um vortéx invisível e se assemelhem a obras de arte abstracta. A sua rota à beira rio (considerada por muitos a mais bonita!) faz-se, como todas as outras, com tranquilidade. Permite-nos apreciar o descer do Sol sobre o Douro junto a Alfândega ao fim da tarde ou pensar sem pressas que restaurante da Foz vamos eleger para o nosso manjar de almoço.
   
   O Elétrico é, por tudo isto, o derradeiro meio de transporte para quando se está de férias na cidade Invicta. É verdade que, provavelmente, não nos deixará a horas no trabalho quando saímos de casa a correr, mas também é verdade que não é esse o seu propósito. 
   Assim, se está de visita, gaste 2.50€ e ajude a preservar esta relíquia da nossa cidade antes que alguma mente iluminada decida transformá-lo num comboio super-sónico. 


PS.: Se por acaso ficar parado porque um carro estacionou em cima da Linha e o Eléctrico não pode passar, não se aborreça. Aproveite antes para ver o que está em seu redor e tirar aquela foto para mais tarde recordar.


Jorge T.